A Síndrome de Treacher Collins é uma malformação congênita que envolve o primeiro e segundo arcos branquiais, caracteriza-se por transmissão autossômica dominante de expressividade variável. É uma doença rara e sua incidência está estimada em uma faixa de 1:40000 a 1:70000 nascidos vivos. Esta síndrome pode apresentar grande variação de diferentes formas clínicas e suas principais características são: anormalidades dos pavilhões auriculares, hipoplasia dos ossos da face, obliquidade antimongolóide das fendas palpebrais com coloboma palpebral inferior e fissura palatina. Estes pacientes devem ser apropriadamente acompanhados por uma equipe multidisciplinar que inclui cirurgiões craniofaciais, oftalmologistas, fonoaudiologistas, cirurgiões dentistas e otorrinolaringologistas. E com um acompanhamento profissional adequado esses pacientes podem ter uma boa qualidade de vida. Entretanto, o paciente está exposto à estigmatização e exclusão social, podendo desenvolver distúrbios emocionais em decorrência da reação das pessoas frente aos portadores.
(Amie e seu avô, ambos portadores da Síndrome)
A americana, Amie Osborn nascida em Sacramento, Califórnia é portadora da Síndrome de Treacher Collin e possui manifestações clínicas bastante pronunciadas da doença, diferentemente da sua mãe e avô que apresentam características mais sutis da síndrome. Amie nasceu sem orelhas externas e usa um aparelho auditivo para melhorar a audição. Ela já foi submetida a múltiplas cirurgias para reconstrução da simetria dos traços faciais e para diminuir as complicações clínicas causadas pela hipoplasia dos ossos da face.
(Amie Osborn no dia da formatura)
Apesar da Síndrome, Amie tornou-se médica especialista em pediatria e em medicina do sono em Houston (Texas-EUA). Ela acredita que o compromisso em ajudar outros portadores da síndrome é parte da sua missão como médica. Segundo ela, a doença não a fez ser uma pessoa “diferente” e sim uma pessoa melhor, com maiores qualidades. Ela encara a síndrome como algo especial, que vai além de fatos e estatísticas científicas sobre a condição.
Afirma que se trata da “pessoa que existe por baixo da superfície”. A sociedade não dedica tempo para ver o que se encontra abaixo da camada mais externa de uma pessoa e nunca vê que abaixo dessa superfície "estranha", as pessoas são "normais" como todas as outras. O objetivo é que a sociedade “leia o livro antes de descartá-lo por a capa parecer um pouco estranha”, diz Amie.
A síndrome proporcionou experiências em sua vida e fez com que ela se tornasse uma pessoa melhor e refletisse sobre questões mais importantes que envolvem a sociedade. Ela afirma que se tivesse a possibilidade de ter outra vida sem a síndrome, teria que educadamente recusar a oportunidade.
A Onfalocele é um defeito na parede abdominal, na inserção do cordão umbilical, com herniação de órgãos abdominais. O defeito é caracterizado pela ausência dos músculos abdominais, fáscia e pele e, coberto por uma membrana avascular, forma uma hérnia. O saco herniado é formado por uma camada interna (peritônio) e uma externa (membrana amniótica) e entre as duas existe uma fina camada de geléia de Wharton. A migração das alças intestinais no cordão umbilical ocorre normalmente entre 8 e 12 semanas de gestação e falha no retorno das alças intestinais para a cavidade abdominal resulta na formação de onfalocele.
A embriogênese da onfalocele não é muito bem entendida. Várias teorias foram sugeridas para esclarecer sua origem. Em casos de onfaloceles extensas, nas quais há herniação de fígado e alças intestinais, o defeito pode resultar da interrupção no desenvolvimento dos folhetos laterais e de falha no fechamento da parede, por volta da terceira ou quarta semana de vida embrionária. Porém, nas onfaloceles pequenas, em que somente as alças intestinais estão herniadas, o defeito pode ser resultante de uma falha nos estágios finais de fechamento dos folhetos laterais, secundário à exposição a agentes teratogênicos ou alterações genéticas que predispõem ao desenvolvimento de malformações. Todos os órgãos abdominais podem herniar, sendo mais freqüente a protusão de alças intestinais, estômago e fígado.
(Zack ao nascimento, com uma onfalocele gigante)
Zack nasceu em fevereiro de 2002 com uma onfalocele gigante que continha parte do seu fígado e do seu intestino. O diagnóstico inicial foi realizado ainda na 15ª semana de vida intra-uterina, durante um exame de rotina realizado pela mãe do garoto. Duas horas depois que o bebê nasceu, ele foi levado para o Children's Hospital and Regional Medical Center, em Seattle (EUA). Muitas crianças com onfaloceles gigantes realizam a cirurgia logo após o nascimento, mas os médicos optaram por seguir uma abordagem mais conservadora.
(Pressão da onfalocele com gaze e ataduras)
Os pais de Zack foram orientados a passar um creme bacteriostático na onfalocele do garoto duas vezes por dia. O creme endurecia e protegia a região. Em seguida, o mesmo era envolto em gaze e suportes de espuma. Uma atadura era colocada em torno de seu abdome para empurrar o conteúdo da onfalocele para o lugar em que o mesmo deveria estar. Quando o bebê estava com sete meses e meio de idade, o cirurgião pediátrico decidiu que o abdome dele era grande o suficiente para poder retirar cirurgicamente os músculos juntos e então, a cirurgia foi realizada com sucesso em 23 de Setembro de 2002.
O abdômen de Zack ficou com uma linha de incisão longa que corresponde justamente ao fechamento da onfalocele.O cirurgião criou ainda um umbigo falso que ficou parecendo com um "c", mas que agradou muito os pais do menino.
(Aspecto clínico da onfalocele aos 4 meses)
Agora Zack está com sete anos de idade e leva uma vida normal, assim como qualquer outra criança e desaparecem todas as preocupações que a mãe dele, Mandy, tinha antes de seu nascimento e durante os seus primeiros meses de vida.
(Aspecto clínico da lesão aos 7,5 meses - antes da cirurgia)
(Aspecto aos 10 meses de idade - 2,5 meses após a cirurgia)
Fontes:.
Mustafá AS et al. Onfalocele: Prognóstico Fetal em 51 Casos com Diagnóstico Pré-natal, Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 23 (1), 2001.
Esse blog proporciona ao aluno da área biomédica um aprendizado a partir de discussões de casos clínicos, permitindo o aprofundamento do conhecimento teórico sobre a Embriologia e suas interações transdisciplinares.